terça-feira, 22 de julho de 2008

Cidadania: tempos e espaços de um processo em construção



Inicio essa nossa conversa citando a frase do sábio escritor e pensador da Primeira República Lima Barreto (1881-1922) que dizia e repetia que : “o Brasil não tem povo, tem público”. Já naquela época sua fala registrava que o nosso povo apenas assistia a cena,ou seja,viu o desenrolar dos acontecimentos sem jamais participar do processo histórico propriamente dito.
Tomo a liberdade de lembrar o nosso histórico de país colonizado e explorado, onde os seus nativos foram calados e/ou mortos num dos maiores genocídios ocorridos na Humanidade.
Desde o período colonial toda e qualquer manifestação popular foi entendida como revolta, rebeldia ou arruaça e os seus líderes foram punidos ou mortos: estão aí o Tiradentes e o Antonio Conselheiro que não me deixam mentir.
Nos 67 anos de Império que aqui tivemos (de 1822 com a Independência a 1889 com a Proclamação da República);não haviam eleições pois o poder exercido pelo Imperador era hereditário e vitalício. O voto para o Senado era censitário, ou seja, só votavam os senhores de terra e o povo ficava fora do processo eleitoral.
A partir do período republicano um tímido esboço de cidadania surgiu, através do voto popular, garantido por lei com a constituição de l891.
Durante a primeira República (1889-1930) votava-se no candidato que o “coronel” determinava, era o chamado voto de cabresto ou voto aberto,e o eleitorado compunha o “curral eleitoral” das lideranças políticas regionais.
No decorrer de cinco séculos de História, a participação do povo brasileiro foi desestimulada, desarticulada e desorganizada o que gerou um sentimento popular de descrença em sua capacidade de lutar por seus direitos.
Hoje sabemos que o exercício da cidadania é um processo contínuo, construído e aprimorado a cada eleição, e esperamos que o eleitor de 2008 também já tenha consciência disto.

Termino aqui lembrando o compositor Almir Satter quando diz ”Cada um de nós compõe a sua história” e afirmo que a nossa História continua sendo escrita por cada um de nós, cidadãos brasileiros que, através do voto cumprimos nosso papel de agentes construtores da sociedade Brasileira.
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Marli Oliveira de Carvalho é Pesquisadora da MPB, Professora de História, autora do livro “Cantando a História – a MPB na sala de aula” e uma estudiosa apaixonada da construção da identidade nacional brasileira

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